“Mãe, mãe, meu braço está coçando! Eu não aguento a coceira! Por favor, tire isso, eu não aguento mais!”
Foi assim que acordei naquele domingo, desesperado com uma coceira incontrolável no braço. Queria arrancar tudo aquilo. Minhas unhas estavam mais claras, avermelhadas, o roxo tinha diminuído, mas a coceira era insuportável.
Sem saber o que fazer, minha mãe me levou ao hospital para que o médico examinasse o braço e entendesse o que estava acontecendo.
Lembro-me bem daquele momento: o médico olhou para o meu curativo com uma expressão curiosa. Havia um lenço preso com esparadrapo cobrindo a área. Ele achou estranho e perguntou à minha mãe o que era aquilo. Ela hesitou, sem graça, mas antes que pudesse responder, eu disse com toda a convicção de uma criança: “É o curativo de Jesus. Meu avô orou e ungiu!”
O médico deu um sorriso, meio incrédulo. Minha mãe tentou explicar, ainda constrangida, enquanto ele começava a retirar as faixas e as gazes, desenrolando tudo bem devagar. E foi então que vi meu braço pela primeira vez. Que susto! Estava coberto de pontos pretos, pareciam pequenas aranhas espalhadas por toda parte.
A parte suturada estava escura, dava até medo de olhar. No entanto, a coceira tinha diminuído, e o médico, ao examinar, notou algo que chamou sua atenção: as unhas avermelhadas indicavam que o sangue estava fluindo normalmente. Ele pediu que eu tentasse mexer os dedos e fechar mão, algo que não era possível fazer com o curativo. Consegui fazer todos os movimentos, sem nenhuma dificuldade pra espanto do médico e da minha mãe.
O médico parecia confuso. Indagou à minha mãe sobre onde ela teria me levado e que tipo de procedimento poderia ter sido feito para causar tanta melhora na regeneração do braço em tão pouco tempo. Minha mãe insistia que nada além do curativo havia sido feito. E eu, repeti mais uma vez, porque vi que o médico não tinha dado crédito ao que eu tinha falado: “Foi o curativo de Jesus!”
Ainda sem entender bem o que estava acontecendo, o médico saiu da sala. Foi fumar no corredor, pensativo (sim, na época isso era permitido). Algo incomum e sem explicação havia acontecido — na verdade, é a simples definição de: milagre.
As semanas passaram, e a vida foi voltando à rotina. Os cuidados com o braço continuaram por meses. Os pontos foram retirados, os movimentos estavam perfeitos e, para surpresa de todos, nenhuma sequela ficou. Nada! Aos olhos humanos, era simplesmente inacreditável.
Tive uma infância muito saudável e sem nenhuma restrição em relação ao braço. No ano seguinte, ganhei minha primeira máquina de escrever e aprendi cedo a usar os dedos das duas mãos. Na juventude, pratiquei todo tipo de esporte, vôlei, basquete, handebol, até goleiro de futsal eu fui!
Milagres são assim: incontestáveis e irrevogáveis. A cicatriz está aqui, pra quem quiser ver, cobrindo o braço inteiro, do pulso ao cotovelo, e, se ainda restar dúvida de que ficou perfeito, a última parte da história é a cereja do bolo.
Já adulto, comprei meu primeiro computador, mas não sabia sequer como ligá-lo. Naquela época, computadores não eram tão intuitivos quanto hoje. Para usar, era preciso inserir um disquete de inicialização no sistema DOS para carregar o Windows, que havia sido recém-criado. Se você não entendeu, tudo bem, é só pra você saber que, na época, não era só apertar um botão pra ligar.
Um amigo me ajudou com os primeiros passos. Ele me perguntou se eu era destro ou canhoto, e eu respondi que era destro. Então, ele me orientou que usasse o mouse com a mão esquerda, deixando a direita livre para escrever. Eu, inocente, acreditei. Bom, até hoje, o mouse fica do lado esquerdo do teclado.
Essa história é apenas mais uma prova de que Deus sempre tem a última palavra. Lembre-se sempre disso.
Prof. Jefferson B. Macedo